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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
VIAGENS DE ANTONIO MIRANDA PELO BRASIL
 


RIO DE JANEIRO ANTIGO
08-02-1991

 

  1. MORRO DA CONCEIÇÃO

    Os morros da cidade do Rio de Janeiro, no centro urbano, ainda conservam bairros tradicionais: Santa Teresa e Morro da Conceição são os melhores exemplos. Sobretudo este último, mais tradicional, embora mais decadente e abandonado. Até ficam ruelas estreitas que vão da rua Camerino até a Praça Mauá, passando pelo Valongo. Inclui um velho observatório, um cemitério inglês, uma pequena fortaleza e, principalmente, sobrados e casas no melhor estilo português, pegadas umas às outras, com portais de pedra e janelas coloniais.
    Um pouco da Velha Lisboa em plenos trópicos, com duas ladeiras e povo de traços lusitanos, invadidos por negros alforriados, mestiços e pobres remanescentes em cortiços, em casas simples. Mais abaixo os arranha-céus de vidro, o barulho dos automóveis, o mundo egoísta dos negócios.
    Fosse um país desenvolvido qualquer, tal patrimônio arquitetônico seria valorizado, restaurado, conservado, transformado em zona de artistas e boêmios, com restaurantes e antiquários. 
    No Rio de Janeiro, de costas para o moderno, desescondido por trás dos altos edifícios, para transeuntes indiferentes.

    Nos muitos anos que morei no Rio não andei por lá. Olhava de longe, com certa curiosidade, a silhueta vetusta e pardacenta, encimada no promontório. Nunca subira antes. Estava mais familiarizado com a mirada dos prédios de apartamentos do Flamengo, de Botafogo e de Copacabana, com suas curvas sensuais demarcando a paisagem montanhosa. Mas sentia-se, desde muito jovem, atraído pelos velhos casarões da região da Praça XV e pela nobreza decadente dos bangalôs e castelos de Santa Teresa.
    Olhava as ladeiras e escadarias de Monte Cristo e da rua Camerino, mas nunca atrevera-me a subi-las e explorá-las. Só em 1982, depois de ler reportagens nos jornais e informações, é que decidi subir, no meu FIAT, munido de câmera fotográfica, para registrar as imagens sobreviventes, a começar pela pitoresca rua do Jogo da Bola e o palacete, no melhor estilo arquitetônico colonial.
  2.  

 

Foto: https://historiadoesporte.wordpress.com/2017/01/30/o-jogo-da-bola-no-rio-de-janeiro-do-seculo-xviii/


Volto ao local pelas mãos do meu amigo Giacomelli, em um confortável carro com ar acondicionado. O morro calma, com gente pacífica nas portas e calçadas, vivendo um modesto fim de semana, solidário e gregário, de relações vicinais profundas.
Um corte transversal no tempo, uma ruptura oblíqua. Um mundo à parte, tão próximo, tão distante... Nem parado no passado, nem participante do presente, mas mesmo assim contemporâneo, simultâneo em seu contraste cronológico. Um ontem-hoje, sempiterno, vigilante, remanescente, indiferente.

 


Foto: www.google.com

 

  1. Fortaleza de Santa Cruz

    Depois atravessamos a ponte na direção de Niterói. Poucos carros disputando os 13 km de pista, depois do                                                                                                último pacotaço do Collor e da Zélia e do, como sempre, inevitável reajuste de combustíveis.
    E continua válida aquele malicioso epíteto de que
    “o melhor de Niterói é a vista do Rio de Janeiro”...
    E é mesmo, apesar de tantos pontos de interesse da cidade de Arariboia.


Foto: Wikipedia

 

 

“Arariboia foi um cacique da tribo temiminó, que se tornou fundamental para os portugueses na conquista da Baía de Guanabara contra os franceses e os tamoios. Ele é considerado o fundador de Niterói, pois, como recompensa pela sua aliança, recebeu terras onde hoje é a cidade. Nascido por volta de 1520, ele foi batizado pelos jesuítas com o nome cristão de Martim Afonso de Sousa. “ [https:www.google.com/]

Ao final, depois de olhar igrejas, praias e monumentos, o que predomina sempre é mesmo o cenário carioca, com o Pico da Tijuca. Onipresente paisagem, em cada curva da tortuosa orla marítima fluminense.
(Das montanhas do Rio de Janeiro já se disse tudo: que são sem adjetivos).
Nosso destino era o forte de Santa Cruz, que eu conhecia de cartões-postais e, mais recentemente, pelas cenas da telenovela “Kananga do Japão”, da Manchete, com o personagem Juarez Távora e outros tenentes tramando a fuga pelo mar.

Acredito que antes não estivesse aberta à visitações. Houve um tempo — síndrome da Ditadura —
em que nem se podia fotografar quarteis e visitas só para saber de mortos e torturados.

 

A fortaleza de Santa Cruz é das mais antigas e bonitas do Brasil. Uma verdadeira cidadela, à entrada da lendária baía de Guanabara. Começou a ser erguida por Villegagnon, durante a ocupação francesa, em 1555, a partir da instalação de dois canhões.

Quatro séculos sedimentam hoje suas pedras superpostas, suas imensas galerias, suas fortificações antes inexpugnáveis.
O soldado-guia recita frases decoradas de um breve manual, sem muita precisão histórica, e o folheto distribuído apresenta apenas a cronologia, ressaltando a defesa do território contra os corsários holandeses e franceses e outros fastos de nossa história política e militar, desde o incidente da Revolta da Armadas, passando pela Revolução de 1930, até o último disparo, em 1955.
Uma obra ciclópea sobre a rocha nua.  Canhões dos séculos XVII e XIX, muitos deles  em avançado estado de corrosão pela maresia e o abandono.

As construções  civis acumularam-se ao longo dos anos, desde a capela e as prisões do século XVII, a cisterna da no século XVIII e as casamatas e paiol do século passado.

O beato José de Anchieta andou por lá. “Consta” que Tiradentes também, na condição de prisioneiro da Inconfidência. De verdade, as crônicas registram as prisões de Frutuoso Rivera, Bento Gonçalves, Plínio Salgado e Juarez Távora.
Quantos anônimos morreram torturados, enforcados ou fuzilados em seus labirintos, quanto penaram em suas solitárias úmidas, escuras e abafadas, em rituais de sadismo programado?
Hoje é um monumento nacional, dos mais belos e pacíficos. As notícias de decapitações e mutilações humanas soam como barbaridades do passado.

A quietude e placidez do local, ladeado pelo mar oceano e pelas águas represadas da baía nada lembram da violência urbana, ainda mais cruel, por detrás da silhueta bela das edificações distantes.

 

 

 
 
 
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